ATAQUE NA SERRA EXPÕE
DESCONTROLE DO SEMIABERTO (Zero Hora, 06/01, Capa e páginas 28 e 29)
Seis dos sete
assaltantes identificados no ataque a uma fábrica de jóias em Cotiporã, que
aterrorizou a Serra, na semana passada, eram foragidos do regime semi-aberto.
Quatro fugiram poucas horas antes do crime, mas Paulo Cesar da Silva, 32 anos,
um dos três mortos em confronto com a Brigada Militar, havia escapado da
Colônia Penal Agrícola de Charqueadas, em 2006. O caso é um entre tantos que se
repetem há mais de uma década e demonstra a calamidade dos albergues gaúchos,
superlotados, depredados, com bloqueios judiciais e milhares de fugas. Em 12
anos, de 2000 a 2011, houve 47,2 mil fugas do semiaberto no Estado. E o exemplo
do descalabro é o Instituto Penal de Viamão (IPV), interditado pela Justiça na
sexta-feira por absoluto descontrole sobre os presos e de onde fugiu, em 22 de
dezembro, um dos integrantes da quadrilha que atacou em Cotiporã e que seria
preso naquele dia. O pedido de interdição no IPV partiu do Ministério Público,
aos moldes da decisão que barrou o ingresso de presos na Colônia Penal de Venâncio
Aires, em junho. Nos dois albergues, só poderão entrar mais apenados se a
Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) demonstrar capacidade de
contenção dos detentos. Criado em 2004 com previsão para cem apenados, em área
contígua a uma escola estadual, o IPV foi ampliado, atingindo a marca de maior
albergue do Estado. À medida que aumentou o número de presos, multiplicaram-se
os problemas, a ponto de se tornar cenário de episódios insólitos. São 450
apenados confinados em alojamentos contidos apenas por uma cerca de arame
esburacada, vizinha a 1,1 mil hectares de mata do Parque Saint-Hilaire, por
onde os presos abriram uma trilha e fazem o entra e sai com drogas, armas e
veículos roubados.
O IPV é o campeão em fuga, média de duas por dia. Sem registro
de saída, os presos vão e voltam para a rua a qualquer hora, assaltando
pedestres, estabelecimentos comerciais do entorno e até em Porto Alegre. Só em
uma noite, em 5 de abril, sete presos escaparam.
Os detentos fogem por buracos na tela, por uma janela com grades
serradas ou por outra, arrancada dos tijolos e que fica apenas encaixada na
parede nos fundos de um pavilhão. Ao mesmo tempo que saem presos, entram
prostitutas para sexo com apenados e viciados para comprar drogas. Criminosos à
solta aparecem para dormir com comparsas e até sem-teto já foi flagrado
“morando” no albergue. Para tentar controlar a situação, desde março, o 18º
Batalhão de Polícia Militar faz operações diárias no entorno do IPV, onde são
abordados dois suspeitos por dia, entre foragidos e intrusos.
“Se tiver
de prender cem vezes, vamos prender”, garante o tenente-coronel Florivaldo
Pereira Damasceno, interino no Comando de Policiamento Metropolitano.
Quando ocorrem confrontos, apenados correm para dentro do
albergue e das janelas disparam contra os PMs. Nem policiais escapam dos
bandidos que saem do IPV para roubar. Em 2012, um soldado e um sargento da
reserva foram assaltados por fujões, um em Viamão e outro na Capital. Os
agentes penitenciários pouco podem fazer. Adotaram uma conferência extra, em
horários alternados, sem muito sucesso. São só oito servidores de dia e cinco à
noite para cuidar dos 450 apenados. São, praticamente, reféns. Três pedidos
para erguer um muro de contenção em torno do albergue foram encaminhados à Susepe,
mas nenhum foi atendido.O caos no IPV se completa com a precariedade dos
prédios. Em novembro de 2010, durante rebelião, um alojamento emergencial para
150 vagas foi incendiado. A rede elétrica não suporta a carga de consumo, com
risco de incêndios. Como quebra-galho, um cabo transmite a energia de forma
improvisada de um transformador para uma caixa de força, semelhante a um
“gato”, mas toda semana ocorrem curtos-circuitos. Chove nos pavilhões como se
fosse na rua, e a água escorre pela tubulação da fiação de luz.
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