domingo, 25 de novembro de 2012

UM DIA NO COLÉGIO TIRADENTES



A estudante de jornalismo Florença Castro passou um dia no Colégio Tiradentes pra contar como é. Ela que estudou em escola particular, viveu um dia de disciplina intensa e teve que prender – muito bem – o cabelão loiro.
 
“Eu conhecia a escola porque uma amiga muito próxima havia estudado lá. E confesso: achava um pouco esquisitas as coisas que ela me contava, por ter estudado em uma escola com uma realidade muito diferente. Assim, dessas histórias espontâneas e da minha curiosidade, surgiu a ideia de fazer uma reportagem sobre a rotina de quem estuda no Tiradentes. Conversei com o pessoal do colégio e decidimos: eu iria me caracterizar a rigor, como se fosse uma nova aluna da escola, e viveria a rotina por um dia. Foi isso que fiz. Vesti o uniforme que aquela galera farda todos os dias, me esforcei para arrumar meu cabelo do jeito certo e não levar bronca de ninguém e fui reviver os tempos de colégio de uma maneira diferente (e com muito mais disciplina, inclusive). Saí de lá com uma opinião diferente da que tinha entrado e me surpreendi com algumas exigências, mas fiquei muito emocionada com a persistência e a disciplina de quem vive esse dia a dia e estuda lá. Não quis fazer uma reportagem com juízo de valor, ou insinuar qual sistema de ensino ou qual colégio é melhor de se estudar. Apenas quis saber mais sobre a rotina de uma galera que vive uma rotina bem diferente”.

                                       7h15min, FORMATURA MATINAL
 
Todos os alunos da escola ficam parados, estáticos, em posição de sentido, no pátio do
colégio. Essa cena, para mim e para o Marcelo (Editor de Vídeo do Kzuka), foi, no mínimo,
estranha. Um silêncio absurdo, uma disciplina jamais vista. Permanecemos ali, parados, observando tudo aquilo que, para nós, era algo totalmente fora de nossa realidade. Quando a galera toda está assim, organizada em pelotões, se diz que eles estão em forma.É a primeira coisa que fazem ao chegarem no colégio: todos se direcionam para o pátio e entram, imediatamente, em forma. É regra. E lá, regra é coisa séria. Nessa hora, a galera do terceiro revista a do primeiro e segundo – todos devem estar com a farda impecavelmente passada, os guris sem barba e as gurias com meia-calça, unhas curtas (o comprimento não pode passar do dedo), esmaltes e maquiagens discretas e cabelos trançados. Qualquer detalhe é suficiente para despertar a atenção de um superior. Depois do hasteamento das bandeiras do Brasil, Rio Grande do Sul e Colégio Tiradentes, o pessoal volta para a posição de forma, para, assim, sair para marchar. Me deu vontade sair marchando junto, juro! Foi muito legal de ver. Após a marcha, eles ficam novamente em forma e escutam os recados do dia. Dados os recados, vem o “grito de fora de forma”, em que a galera responde “CTBM Brigada Brasil!”, e, assim, todos são liberados para se encaminhar normalmente, para as salas de aula.

                                                       10h, RECREIO (B)
 
Foi no intervalo que eu pude conversar mais com o pessoal e descobrir o que, de fato, eles pensam e fazem dentro do colégio. Quem namora mantém distância. Nada de ficar muito
perto um do outro. Não pode rolar nenhuma demonstração de afeto - mãos dadas, cafunés, beijo na boca então... Nem pensar! Descobri um casal porque algumas meninas me contaram, mas se não, nunca teria imaginado! A farda, como já disse antes, tem que estar - sempre -impecavelmente passada. Algumas meninas preferem ir de ônibus pra escola, para, assim, não precisarem sentar no carro. A mulherada tem truque pra tudo: na aula, elas sentam de um jeito lá todo especial para não amassar a saia. Eu, toda desastrada, já sentei cruzando as pernas, e isso não dá pra fazer! A roupa ficou toda amassada na parte de trás e eu poderia ter perdido pontos de atitude. Ou seja, truques, venimim! Vacilei, também, nas unhas e no cabelo. Fui para o colégio sabendo que teria que estar com o cabelo trançado e com as unhas curtas e com esmalte claro – mas nunca imaginei que eles levassem isso tão a sério. Cheguei lá com as unhas pintadas de branco, crente que estava certa e... Surpresa! Não pode. Só não precisei tirar o esmalte porque não era aluna de verdade... O meu cabelo foi outro problema. Ele é bastante comprido, fiz uma trança baixa e com várias mechas soltas. Não pode. Bastou pisar no colégio para virem reclamar do meu penteado rebelde. Tive que ir imediatamente para o banheiro arrumar a trança e passar água nas madeixas. Se as gurias não têm moleza, imagine os guris... Às vezes, na hora da revista, são passados algodões nos rostos para verem se estão devidamente barbeados. Escutei o caso de um menino que, devido a uma alergia na pele, não conseguia se barbear diariamente. E aí? Como faz, produção? É bem fácil: basta o responsável levar um atestado ao Corpo de Alunos do colégio. O guri, feito isso, foi liberado para fazer a barba um dia sim, um dia não.


                                                     12h, DISPENSADOS (C)
 
Os alunos do terceiro ano têm aula até 12h50min, e a galera do primeiro e segundo, às vezes, tem aula à tarde. Sendo assim, as aulas à tarde começam às 13h15min e não contam com todo o ritual da manhã – a galera entra em forma, e, só de vez em quando, é revistada. Enquanto o pessoal estiver dentro do perímetro da escola, não tem jeito, as regras são as do Tiradentes. Palavrão, se for entre eles, e ninguém ouvir, ok. Agora, se algum funcionário da escola escutar, já era! A pessoa perde ponto - e acredite, esses pontos de disciplina são muito importante pra eles. A formatura é bastante diferente dos outros colégios. A galera usa roupa de gala – continua sendo farda, mas uma farda mega glamurosa e sofisticada - e obedece a todo um ritual. É lindo (eu já fui). A parte da bandalheira, ou seja, o festerê, não diz respeito ao colégio. Quem faz, organiza e produz são os alunos. Quem estuda no Tiradentes vai conquistando poder aos poucos – o terceiro comanda o primeiro e o segundo, o segundo coordena a faxina do primeiro, e o primeiro obedece aos outros anos. O pessoal do primeiro e do segundo, ao passar por alguém do terceiro ano, deve prestar continência. É o terceirão no regime militar, minha gente... Mas, mesmo assim, a galera se ajuda em tudo: ninguém quer que o amigo perca ponto por falta de disciplina e, muito menos, que seja expulso do colégio. Pelo que pude observar, bullying é coisa rara por lá. Gostar dessa rotina de rígida disciplina não é sinônimo de ser chato. É perfil. Não cabe julgar. Cabe conhecer. 
(CADERNO KZUKA).

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