segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

DOR E PERPLEXIDADE NO ENTERRO DO SARGENTO EM GRAVATAÍ/RS

DOR E PERPLEXIDADE (ZERO HORA - Capa com foto e páginas 36 e 37) “Poxa, Ariel. Sou eu. Não está me reconhecendo?” Querido por vizinhos, comerciantes e até pelos carroceiros do bairro Morada do Vale II, em Gravataí, o sargento Ariel da Silva, 40 anos, tinha uma resposta pronta ao deparar com conhecidos em blitze: “Depois a gente conversa, deixa eu fazer meu trabalho primeiro. Mãos na parede, documentos...” O jeitão de xerife e as constantes “duras” nos amigos, relatadas entre sorrisos e lágrimas pelo cunhado Cristiano Natividade Souza, 31 anos, são exemplos da retidão com que os familiares lembram de Ariel. É o único “defeito” que a viúva, Adriana Aires, 39 anos, consegue relatar sobre o companheiro: era “quase honesto demais”. Talvez viesse daí a fascinação pela farda, pela autoridade com que brincava de quartel desde criança. Não dava maiores explicações para ter escolhido sua profissão. Simplesmente jamais cogitou outra. Para ingressar na BM, fez o curso preparatório escondido dos pais. Dizia aos familiares que ser policial “estava no seu sangue”. A trajetória de 21 anos na BM teve apenas um percalço, há 16 anos. Ao atender uma ocorrência, o PM foi recebido a tiros. Grávida da filha única do casal, Adriana desesperou-se ao ver o namorado baleado na mão e na perna, e se uniu ao coro dos sogros para que Ariel deixasse a farda. Com o tempo, Adriana acostumou-se. Acalmava-lhe perceber o perfil apaziguador do PM: “Não vejo ele tendo a iniciativa em um tiroteio. Jamais entrou em briga. Com o tempo, comecei a temer mais a moto dele do que a arma”. Foram tempos calmos e prósperos, especialmente os últimos dois anos, depois do dia em que Adriana encontrou o marido aos pulos na sala de casa. Comemorava a promoção a sargento, que faria a reforma da casa ganhar impulso. O próximo passo, neste verão, seria mobiliar o quarto da filha. Mas não houve tempo. Na Morada do Vale, a tristeza pela perda do xerife persiste.   
 
DOIS DELEGADOS SÃO AFASTADOS DO CASO (ZERO HORA - Página 36) Os policiais civis que participaram do tiroteio que resultou na morte de um refém de sequestro em Gravataí foram afastados. Deixam de investigar o caso os delegados Roland Short e Leonel Carivali, que darão explicações à Corregedoria da Polícia Civil. A medida foi anunciada após reunião do governador Tarso Genro com o chefe da Polícia Civil gaúcha, delegado Ranolfo Vieira Junior. E antecipa o pedido que seria feito pelo Ministério Público (MP). O refém morto é Lírio Persch, 50 anos. Ele e um amigo, Osmar Finkler – ambos empresários da cidade de Quatro Pontes (PR) – foram atraídos pelo anúncio de venda de uma colheitadeira em Gravataí e acabaram sequestrados. A polícia paranaense descobriu onde estava a quadrilha e avisou os colegas gaúchos sobre o local do cativeiro. O tiroteio aconteceu num sobrado atrás da Câmara de Vereadores de Gravataí, no Centro. Persch foi atingido quando os policiais tentavam impedir a fuga dos bandidos. Três sequestradores (dois gaúchos e um paranaense) acabaram presos, com armas e toucas. O cerco aos sequestradores foi feito pelos delegados Carivali (da 1ª Delegacia de Polícia Regional Metropolitana, com sede em Gravataí) e Short (da 2ª DP). Carivali assumiu ter efetuado dois disparos. O subprocurador-geral de Justiça para assuntos institucionais do MP, Marcelo Dornelles, que pretendia pedir o afastamento dos delegados, disse: “O delegado que participou do tiroteio não pode investigar a si mesmo”. O tiroteio que resultou na morte de Persch começou quando PMs foram checar quem eram homens armados que cercavam o cativeiro (na realidade, eram policiais civis). Os bandidos tentaram sair, e os policiais civis atiraram contra o carro de sequestradores. O refém acabou morrendo. Promotores querem saber porque os policiais civis se isolaram na operação, sem avisar a Brigada Militar. Serão quatro os inquéritos abertos pela Corregedoria da Polícia: um sobre o sequestro, um sobre a morte do refém e outros dois relacionados à morte do sargento Ariel da Silva, 40 anos, morto por engano por policiais civis paranaenses que investigavam o sequestro na madrugada anterior. À paisana, o sargento foi baleado ao se aproximar dos policiais – possivelmente, também pensando que eram bandidos. A Justiça decretou a prisão temporária dos agentes paranaenses, por 30 dias, para esclarecer por que eles agiram em solo gaúcho de forma clandestina. Os policiais estão presos em Curitiba. O derradeiro inquérito é para investigar por que esses policiais foram liberados para seguir viagem ao Paraná. A liberação foi dada pela delegada Sandra Louzada, de plantão na noite da morte do PM

GOVERNADOR DO PARANÁ RESPONDE A CRÍTICAS (ZERO HORA - Página 36) Ontem, em visita a Cascavel (PR), o governador do Paraná, Beto Richa, foi questionado sobre a operação em Gravataí. Até então, autoridades paranaenses haviam evitado declarações. “Foi um fato lamentável, um fatalidade com duas vítimas inocentes. Pelo que eu sei, houve falhas nas duas polícias (do Paraná e do Rio Grande do Sul)”. A fala do paranaense teve um alvo especial. O governador Tarso Genro, que, na quarta-feira, classificou a ação dos policiais do Paraná de “profundamente ilegal e irresponsável”. Pela manhã, no sepultamento do sargento Ariel Silva, Tarso voltou à carga: “Vamos fazer o mais profundo e completo esclarecimento para que isso não se repita. Aqui não é terra de ninguém. Porque esses policiais estavam aqui, irregularmente, fazendo operações, e a partir daí toda cadeia de movimentações que ocorreram na nossa polícia, até culminar com erro trágico que determinou a morte de uma vítima. Se essa operação foi benfeita ou malfeita eu ainda não tenho condições de avaliar. Sei que a primeira foi mal feita e que, dali, decorreu o resto”. Mais incisivo, o secretário da Segurança Pública, Airton Michels, acredita que a Polícia Civil gaúcha deveria ter autuado em flagrante os paranaenses. 

TRAPALHADA POLICIAL (ZERO HORA - EDITORIAL página 16) “É assustador o conjunto de erros técnicos e de conduta que fizeram com que grupos de policiais paranaenses e gaúchos cometessem duas das mais trágicas ações da área da segurança dos últimos anos no Estado. A morte de um sargento da Brigada e, logo depois, de um refém, em operações repletas de falhas, compromete a imagem das duas polícias e exige respostas imediatas das autoridades. O que houve, nos dois episódios, foi essencialmente uma demonstração de como os profissionais não devem agir, a começar pelas atividades clandestinas de agentes paranaenses em território gaúcho. O governador Tarso Genro definiu a presença dos policiais do outro Estado como irresponsável. O desfecho da operação demonstra que o que houve, na verdade, foi uma invasão ilegal do Rio Grande do Sul, configurando uma iniciativa desrespeitosa com as forças de segurança e as autoridades gaúchas. Quem determinou que policiais, pertencentes a um grupo de elite, agissem na penumbra em Gravataí, em atitude ofensiva e em desacordo com as normas mais elementares de compartilhamento de informações com as forças locais? Como três policiais considerados de um segmento especial da polícia paranaense se atrevem a atuar numa cidade que desconhecem, sem a ajuda de colegas do município? As interrogações conduzem para a conclusão de que a inépcia foi apenas a consequência de um atrevimento inexplicável. O sargento Ariel da Silva, com carreira considerada exemplar na Brigada Militar, foi morto por colegas civis despreparados. Essa é outra conclusão inevitável, independentemente de quem tenha disparado os tiros que tiraram a vida do PM. Os três ocupantes do carro secreto desencadearam as infelizes trapalhadas que depois resultaram na morte do refém de um sequestro. Os dois episódios, com duas mortes de inocentes, são exemplares em suas consequências e significados, por combinarem tudo o que a polícia deveria evitar. Policiais gaúchos, sob suspeita de envolvimento na morte do empresário do Paraná, num momento em que este, pelos indícios, estava sendo posto em liberdade, devem igualmente se submeter a investigações. Mas é óbvio que as sindicâncias não podem ser conduzidas apenas pela corregedoria da própria polícia. A tarefa é também do Ministério Público e não pode, sob nenhuma hipótese, enfrentar constrangimentos ou restrições. Em momentos como este, em que competências são questionadas, é natural que comandos da segurança se preocupem em dizer que estamos diante de fatos de exceção, mesmo que esses se repitam com elevada frequência. Nada disso pode significar que as autoridades estejam contemporizando diante da gravidade do ocorrido. Faz bem o governador Tarso Genro em determinar rigor na apuração das circunstâncias e responsabilidades pelas mortes. E agirão corretamente as polícias, tanto a gaúcha quanto a paranaense, se não incorrerem, por impulso corporativo, no erro de ser indulgentes com os investigados. As sindicâncias da Corregedoria da Polícia e do Ministério Público não podem enfrentar quaisquer constrangimentos, para que os episódios, com dois inocentes mortos, sejam totalmente esclarecidos.”.


POLICIA APURA MORTES EM GRAVATAI (correio do povo - página 25) O secretário de Segurança Pública, Airton Michels, determinou ontem à tarde o afastamento dos delegados Leonel Carivali e Roland Short do caso que investiga a ação de um estouro de cativeiro, que acabou com a morte de um refém, em Gravataí, na quarta-feira. Na realidade, Michels se adiantou ao subprocurador-geral de Justiça, Marcelo Dornelles, que estava a caminho para protocolar no Foro de Gravataí o pedido de afastamento, quando recebeu o telefonema do secretário. A partir de agora, as investigações ficam sob a presidência do delegado Paulo Grillo, da Delegacia de Feitos Especiais, da Corregedoria de Polícia (Cogepol), que tem 30 dias para a conclusão. O promotor Diego de Vilas acompanhará o inquérito da Polícia Civil. No local do cativeiro, foram apreendidas três armas: dois revólveres, de fabricação argentina, calibre 38, e um Rossi, calibre 22. Duas pessoas morreram, em momentos distintos: o fazendeiro gaúcho, radicado no Paraná, Lírio Darci Presch e o sargento da BM Ariel da Silva. Este último foi atingido por tiros de policiais civis paranaenses, que teriam entrado clandestinamente no RS. De acordo com Dornelles, o pedido do MP se baseava na máxima de que "quem está envolvido nos fatos não pode conduzir a investigação sobre estes". Além disso, o MP e a Cogepol também investigam se ocorreu prevaricação no caso da liberação dos policiais civis paranaenses. Eles foram liberados logo depois de eles terem matado o brigadiano. Os três suspeitos estão presos em Curitiba e devem se apresentar à Cogepol gaúcha até segunda-feira no máximo. Grillo ressaltou que ainda não recebeu todos os inquéritos e que será dada prioridade à perícia. Disse que a ação foi lamentável, na medida em que um refém morreu, e garantiu que a apuração será "feita com rigor e sem corporativismo". "É difícil comentar a ação, pois em uma fração de segundos o policial tem de decidir o que fazer", disse. "E os sequestradores teriam saído no carro e teriam apontado as armas. De acordo com o promotor, o Carivali admitiu em seu depoimento ter efetuado dois disparos, após ter escutado o som de dois tiros. Os outros ouvidos negaram ter atirado. Policiais civis daqui e do Paraná, à tarde, estariam procurando o cativeiro. Populares ligaram para a BM denunciando que homens, armados, estariam na rua doutor Luiz Bastos do Prado (eram os paranaenses). Os PMs foram ao local. "O delegado paranaense Danilo Crispim, em seu depoimento, disse que foi abordado pelos PMs", relatou Dornelles. "Ele se identificou e, então, ficou sabendo que o cativeiro fora encontrado pelos gaúchos. Refém relata saída do cativeiro O tiro partiu de um policial gaúcho. A declaração foi dada pelo empresário Osmar José Finkler ao jornal Gazeta do Povo, de Curitiba (PR), ao falar sobre a morte de Lírio Darci Persch, na quarta-feira, em Gravataí. Os dois haviam sido sequestrados. Proprietário de uma transportadora em Quatro Pontes, o empresário veio a Gravataí, atraído pela oferta de uma colheitadeira em um site de máquinas agrícolas. Ele e Persch caíram no "golpe do chute", onde os criminosos anunciam um produto com preços inferiores aos de mercado. Na terça-feira, ao chegar a Gravataí, eles foram rendidos por três homens armados e levados a um cativeiro. "Estávamos no carro para sermos libertados. Nos deram as chaves da caminhonete e os documentos." Ele garantiu que policiais chegaram atirando. "Acho que faltou jeito e foi tudo meio apressado", disse. 

TARSO: AÇÃO FOI IRREGULAR E CLANDESTINA (CORREIO DO POVO - página 25) O governador Tarso Genro esteve no velório do sargento Ariel da Silva e foi contundente ao criticar a conduta dos agentes paranaenses. "O ponto de partida é a entrada irregular, ilegal e clandestina desses policiais para uma operação, não comunicando à autoridade policial gaúcha", avaliou o governador. Na saída do cemitério parque Memorial da Colina, em CACHOEIRINHA, Tarso ressaltou a necessidade de investigar como ocorreu o fato, por que não avisaram a Polícia do Estado e de analisar "toda a cadeia de problemas que se originaram dessa ilegalidade". Cancelando sua agenda, Tarso Genro convocou ainda para ontem uma reunião com o secretário da Segurança Pública, Airton Michels, e com o chefe da Polícia Civil, delegado Ranolfo Vieira Júnior, além de se encontrar depois com o comandante-geral da BM, coronel Sérgio Abreu, para tratar do caso. "Vamos fazer um mais profundo e completo esclarecimento para que isso não se repita. Aqui não é terra de ninguém", afirmou o governador. Sobre a participação de policiais civis do RS junto com agentes paranaenses na ação que resultou em erro trágico, com a morte de uma vítima sequestrada em Gravataí, Tarso garantiu que será apurada a movimentação da Polícia gaúcha. O secretário de segurança, Airton Michels, no velório de Ariel da Silva, disse que há muitas coisas a serem esclarecidas. "O sargento foi morto de forma absolutamente equivocada", destacou. Para Michels, na ação policial que determinou a morte do refém em poder dos bandidos, houve um imprevisto que se diferenciou de uma ação de resgate. 

PM SEPULTADO COM HONRAS MILITARES (CORREIO DO POVO - página 25 com foto) O corpo do sargento Ariel da Silva, 40 anos, morto por policiais civis paranaenses, foi sepultado no final da manhã de ontem com honras militares no Cemitério Parque Memorial da Colina, em CACHOEIRINHA. Perfilados em guarda fúnebre, sete policiais do 17º BPM efetuaram 21 tiros em três salvas, seguidas do soar das sirenes das viaturas estacionadas próximas do local do enterro, além de aplausos. Dezenas de colegas de farda, familiares e amigos, além de autoridades e oficiais da Brigada Militar, compareceram ao sepultamento. Ariel tinha 21 anos de BM e deixa esposa e uma filha adolescente. O sargento, que atuava havia 18 meses no setor de inteligência do 17º BPM, foi morto com cinco tiros disparados de uma viatura discreta Renault Logan, com três agentes do Grupo Tigre-Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial, que vieram de Curitiba (PR) para Gravataí para localizar o cativeiro onde estavam duas vítimas sequestradas. Após sair da casa do pai, na Morada do Vale, o PM conduzia sua moto Honda pela avenida Planaltina, perto da ERS 020, quando se deparou com o Renault Logan. O que ocorreu em seguida está sendo investigado pela BM e Polícia Civil. Uma das dúvidas é saber se os tiros contra Ariel foram de pistola calibre 40 ou de submetralhadora calibre 40, recolhidas dos agentes do PR. A versão apresentada pelos paranaenses é de que o sargento atirou contra eles em uma abordagem e houve o revide.

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