DESCRIMINALIZAÇÃO PROVOCA POLÊMICA.
A
aprovação pela comissão de juristas do Senado da proposta para descriminalizar
o porte de drogas para consumo pessoal gera polêmica no meio da segurança
pública no Rio Grande do Sul. De acordo com o texto dos especialistas, que
discutem mudanças no Código Penal, não haveria mais crime se um cidadão fosse
flagrado usando entorpecentes. Atualmente, o usuário está sujeito à aplicação
de penas alternativas. Autoridades da área, no entanto, consideram que a
criminalidade poderá aumentar.Com 31 anos de serviço na Brigada Militar, o
comandante do 20º BPM, tenente-coronel Paulo Quadros, afirma ser contra a
liberação para porte e consumo de entorpecentes. Para ele, haverá aumento das
bocas de fumo e, consequentemente, da criminalidade. Lembra que a venda de
drogas é considerada tráfico, e os entorpecentes seriam adquiridos em pontos
ilegais. "Se o governo tivesse programas para cuidar dos dependentes seria
outra situação. Mas não é o que ocorre", diz Quadros. Para o oficial, a medida
só irá incentivar o consumo. Ele faz uma analogia para exemplificar a situação:
"se um policial militar, do meu batalhão, estiver fumando maconha, eu
prendo ou não?", questiona. "Assim como um médico, dentro de um
hospital, será preso ou não?", diz. Outro reflexo seria o aumento das
ocorrências, especialmente os homicídios. As dívidas de um usuário ou as
disputas por pontos de venda, que opõem quadrilhas rivais, resultam em
assassinatos. "A dívida é paga, invariavelmente, com a vida", assinala.A
mesma opinião tem o diretor do Departamento Estadual de Investigação do
Narcotráfico (Denarc), delegado Joel Oliveira. Como a matéria não foi aprovada
no Congresso, o assunto é considerado difícil de avaliar. No entanto, salienta,
se a medida passar, o trabalho dos agentes do Denarc ficará complicado. "É
tudo o que o traficante queria. "Hoje, ele esparrama a droga, imagina com
a aprovação do porte e consumo", comenta. "As disputas territoriais
vão continuar existindo, e o usuário que não pagar a dívida pode ser assassinado."Oliveira
vislumbra que os traficantes vão se valer da legislação para aumentar o seu
lucro. Atualmente, o tráfico é feito aos poucos - o chamado tráfico formiga -,
pois se as bocas de fumo forem flagradas o prejuízo será menor. "Com a
nova legislação, irá aumentar a quantidade de drogas nas bocas e sob os
auspícios da legislação. O pessoal do tráfico poderá alegar que é para consumo
e não será preso", diz.Oliveira faz um cálculo para mostrar quão benéfica
será esta legislação, se aprovada, para o mundo das drogas. Um usuário contumaz
de crack consome, via de regra, de 10 a 20 pedras por dia. Como a proposta diz
que será considerado para consumo a quantidade para cinco dias, um traficante
com até 50 pedras, por exemplo, poderia alegar que é para consumo e não seria
preso. "Hoje, já está difícil apreendermos esta quantidade (50
pedras)", diz Joel Oliveira. "Dá para imaginar o lucro que os
traficantes poderão ter com a nova lei", ressalta o diretor do Denarc.
"É tudo uma questão econômica", completa.
(Zero-Hora. 03/06/2012. Página 20 com foto).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Visite nosso Blog: http://cpmbmrs.blogspot.com.br - Comente a vontade nossas matérias. Obrigado.