(Zero Hora. Capa e páginas 36 e 37) Um fenômeno comum aos seriados de TV e até pouco tempo visível apenas nas grandes cidades está desencadeando uma revolução na forma de atuação das forças de segurança no Rio Grande do Sul. Em praças, bancos, vias e comércios, câmeras de videomonitoramento multiplicam-se, esquadrinham os passos do cidadão comum e ajudam policiais e peritos a prevenir, combater, investigar e solucionar crimes. Se há alguns anos as câmeras eram raras longe da Capital, hoje é difícil encontrar uma cidade desprovida de equipamentos – ao menos em agências bancárias ou lotéricas. O avanço silencioso e massivo das retinas digitais ganhou visibilidade extra nos últimos dias, com o desaparecimento da soldado Luane Chaves Lemes, 23 anos, cujo corpo foi encontrado terça-feira, em Fontoura Xavier. Com a ajuda de imagens captadas em diferentes pontos de Passo Fundo, onde Luane morava, os investigadores conseguiram reconstituir as últimas horas de vida da PM em um grau de detalhamento surpreendente. O artifício, segundo o diretor do Departamento de Gestão Estratégica Operacional da Secretaria da Segurança Pública, coronel Carlos Hirsch, reflete uma tendência que se cristaliza – e transforma o trabalho dos profissionais da área. Na Polícia Civil, por exemplo, uma equipe especializada em análise e tratamento de vídeos vem conquistando espaço desde o início do ano no Gabinete de Inteligência e Assuntos Estratégicos. Em uma sala de acesso restrito no quarto andar do Palácio da Polícia, na Capital, três agentes e um delegado aprenderam a usar softwares de edição para auxiliar colegas na elucidação de mistérios como o de Luane – em que as imagens são fundamentais para direcionar buscas e definir linhas de investigação. Com a ajuda dos computadores, os agentes dão nitidez e foco a flagrantes, alteram brilho e contraste, acertam a velocidade dos quadros. Dependendo do caso, conseguem obter placas de veículos e feições de suspeitos. Para agilizar a identificação, publicam frames no site da Polícia Civil, onde a população pode teclar informações online. As novidades não terminam aí. “Estamos recebendo 15 novos computadores e 18 novos notebooks e, em breve, pretendemos oferecer um curso de edição para o pessoal das delegacias regionais”, adianta o diretor do gabinete, delegado Emerson Wendt. No Departamento de Criminalística (DC), o aumento da demanda por perícias em vídeos também provocou mudanças. Em dezembro, uma área específica foi criada, conforme a diretora do órgão, Andréa Brochier, para dar conta dos arquivos vindos de todos os cantos do Estado. Desde então, um expert no assunto, com doutorado em Processamento de Sinais, se debruça sobre os casos. Um dos programas utilizados, conhecido como Faces, permite cruzar as imagens de pessoas gravadas com rostos contidos em um banco de dados composto por 400 mil indivíduos – todos com passagem pela polícia. “Os resultados não são tratados como provas definitivas, mas têm ajudado bastante nas investigações”, garante o perito, que pede para ter o nome preservado. Outra área que começa a se modernizar por influência da tecnologia visual é o policiamento ostensivo – e não apenas em cidades como Porto Alegre, onde o Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp) conta com 56 pontos monitorados. Em municípios menores, com número restrito de PMs, o trabalho é potencializado pelas lentes automáticas. “As câmeras estão permitindo uma vigilância mais intensiva, já que não temos como colocar um policial em cada esquina. Com o monitoramento virtual, os PMs estão mais ágeis e, em muitos casos, têm conseguido impedir crimes antes que aconteçam”, afirma o comandante-geral da BM, coronel Sérgio Abreu.
GRANDE VIGILÂNCIA SOBRE OS PEQUENOS (Página 37) Dos 41 municípios que, segundo a Secretaria Estadual da Segurança Pública, concentram 786 câmeras públicas espalhadas pelo Rio Grande do Sul, 25 têm menos de 100 mil habitantes. O equivalente a 60,9%. Para quem imaginava que os aparelhos se concentrassem apenas nas grandes cidades, o caso de PARECI NOVO, no Vale do Caí, salta aos olhos. No pequeno município marcado pela colonização alemã, os 3,5 mil moradores já se acostumaram com a sensação de participar de um reality show e não abrem mão da tecnologia. Segundo o prefeito, Oregino José Francisco, 10 filmadoras dividem-se entre a área ocupada por mercados e madeireiras, a praça central e o setor bancário. “Temos três bancos, todos próximos, e tenho certeza de que nunca foram assaltados por causa das câmeras”, diz o prefeito. No início de 2012, o número de aparelhos instalados no Interior deve se multiplicar. Esta semana foi assinado um convênio para a implantação de 156 novos equipamentos fixos em 24 municípios do Litoral Norte. O projeto foi possível, segundo o secretário-adjunto da Segurança Pública, Juarez Pinheiro, devido à mobilização das comunidades e aos recursos do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci). “O Rio Grande do Sul já é o Estado brasileiro com a maior proporção de câmeras por habitantes. O único cuidado que devemos ter é não encarar a tecnologia como a panaceia para todos os males”, ressalta Pinheiro. A opinião é compartilhada pelo especialista em segurança estratégica, Gustavo Caleffi. Ele lembra que os aparelhos devem oferecer imagens de qualidade, estar corretamente posicionados e fazer parte de uma rede.
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