sábado, 4 de janeiro de 2014

Delegado Leonel Fagundes Carivali



“VOU CARREGAR ESSE FARDO PELO RESTO DA VIDA” (Zero Hora - Página 36, 21/13)  Personagem de um episódio que ficou na história policial do Estado, o delegado Leonel Fagundes Carivali, 43 anos, teve a vida profissional modificada há dois anos. Em 21 de dezembro de 2011, nas ruas de Gravataí, na Região Metropolitana, uma série de acontecimentos resultou na morte de um refém, o agricultor Lírio Persch, e do sargento da Brigada Militar (BM) Ariel da Silva. O sargento foi morto por policiais do Paraná que vieram ao Rio Grande do Sul em missão de resgate dos reféns – Persch e o empresário Osmar Finkler, gaúchos que moravam na cidade de Quatro Pontes (PR). Sem avisar a polícia gaúcha, os paranaenses acabaram sendo confundidos com bandidos e tirotearam com o sargento, que morreu no local. Ainda naquele dia, os sequestradores foram descobertos e, durante abordagem policial, o delegado Carivali acabou atirando no agricultor. Na época, ele era delegado regional de Gravataí. Hoje, dirige a Divisão de Transporte e Manutenção, uma mudança radical na vida do policial, que era considerado da linha de frente da corporação. Ontem, durante uma hora e meia, ZH conversou com Carivali, que foi inocentado pela Justiça sobre a reviravolta que a vida dele deu a partir do episódio. A seguir, confira trechos da entrevista, concedida no seu gabinete, em Porto Alegre: Zero Hora – O senhor foi inocentado pela segunda vez. Qual é a sensação? Leonel Fagundes Carivali – Em primeiro lugar, não tenho nada a comemorar. Uma pessoa foi morta, no caso, um refém. Mas estou aliviado, eu e a minha família, que sofreu um grande impacto. Somos quatro policiais na família e logo seremos cinco. Independentemente do resultado da Justiça, eu vou carregar esse fardo pelo resto da vida. ZH – Como tem sido a sua vida na polícia depois do episódio? Carivali – Foram dois anos em que vivi a polícia de uma forma diferente. Desde o primeiro momento, pedi para a chefia para sair da função (de delegado regional de Gravataí). Me perguntaram onde queria trabalhar. Eu disse que era na área administrativa, uma coisa completamente diferente do que sempre tinha vivido, como linha de frente da corporação. Fiz opção por entender que era o melhor para todos. ZH – E a convivência com os colegas? Carivali – Tentei caminhar, dentro do ambiente policial, de uma forma digna. Tem muitos jovens entrando na polícia, e nós, velhos, somos uma referência. E, quando estamos passando por uma coisa pesada, como esse episódio, temos que ter consciência de que os jovens estão olhando para o que estamos fazendo. ZH – O que significa “pesado”? Carivali – É a lembrança recorrente do episódio. E a tentativa de assimilar aquilo que não se consegue mais mudar. ZH – Examinando tudo que aconteceu naquele momento, qual é a sua conclusão? Carivali – Foi uma fatalidade, um tipo de coisa que está presente na vida de todo policial. Ela pode acontecer a qualquer momento. Durante esse tempo, colegas vieram até mim contar situações semelhantes em que se envolveram. ZH – Em algum momento, o senhor se sentiu protegido ou hostilizado pela corporação Polícia Civil? Carivali – Não vivi esses dois extremos. No episódio, a Corregedoria de Polícia fez o seu papel, o Ministério Público, o dele, e a Justiça, o dela. ZH – Qual foi o impacto na vida pessoal? Carivali – Foi um aprendizado a duras penas. Além de delegado, sou professor universitário há 15 anos. Durante muitos anos, ensinei sobre inquéritos policiais. De uma hora para outra, saiu o delegado e professor da frente deles (alunos), e entrou o réu. Eles estavam muito interessados em questionar a situação. Eu os deixei à vontade para perguntar. Logicamente que não aprofundei a conversa em algumas questões, por envolver outras pessoas. Foi uma situação interessante. ZH – E como foi em casa? Carivali – A gente se fechou para viver aquele momento juntos. Mas sempre tive muito respeito das pessoas que convivem com a família. ZH – Tomou a iniciativa de entrar em contato com a família do agricultor Lírio Persch? Carivali – Pensei muitas vezes em entrar em contato com a família dele. Tenho certeza de que sofrem muito. Mas achei que não era o momento de tomar essa iniciativa por conta do andamento do processo. Acredito que, no futuro, o meu encontro com eles será inevitável, porque já tenho tomada essa decisão. ZH – O que espera para o seu futuro? Carivali – A vida seguirá seu curso. Na vida policial, a gente sempre está com um pé no heroísmo, outro na tragédia. O ideal é que não se viva querendo ser herói e se saiba evitar a tragédia. ZH – Nos próximos anos, o senhor poderá vir a enfrentar uma situação semelhante à que aconteceu em 2011. Qual a influência que terá sobre a sua decisão? Carivali – Eu espero que tudo o que aconteceu tenha me tornando uma pessoa, um profissional melhor. 

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