(Zero Hora - 26 - Capa e página 34 com dados estatísticos) Não adiantou entrar em vigor o
endurecimento da Lei Seca, montar operação especial, nem reforçar a
fiscalização. O feriadão de Natal, que se iniciou ao meio-dia de sexta-feira e
se encerrou ao meio-dia de ontem, registrou o maior número de vítimas fatais,
levando em consideração os dados absolutos de óbitos dos últimos 10 anos. Ao
todo, foram 38 casos nos últimos cinco dias. Ao quantificar as vítimas por dia
– já que a extensão do feriado varia conforme o ano –, as 7,6 mortes de 2012 só
perdem para as oito do ano passado. O cálculo supera, inclusive 2007, feriado
que também teve cinco dias e que as 35 vidas ceifadas eram o pico até então. Em
contrapartida, a conta perde para o Dia dos Pais, quando os três dias de
estradas somaram 26 mortos. A violência chama a atenção para o tipo de
acidente: metade colisão e boa parte frontal. Entre elas, a triste coincidência
que uniu ontem dois destinos na rodovia Passo Fundo-Trindade do Sul (ERS-324):
dois carros Gol bateram e esfacelaram duas famílias com a morte de uma mulher e
uma criança de cada veículo. O tenente-coronel Ordeli Savedra Gomes, do Comitê
Estadual de Mobilização pela Segurança no Trânsito, que na semana passada
estava animado com as ações montadas pelas polícias, entristeceu-se ao saber
dos números. “Me angustia. Parece que não estamos conseguindo nos comunicar com
o consciente das pessoas. O motorista tem de revisar o carro, saber se ele está
em condições de pegar a estrada, mas o passageiro também tem de ser firme e não
entrar no veículo, caso desconfie de cansaço ou embriaguez do condutor”,
desabafou o tenente-coronel. Gomes aposta que o resultado alcançado pela
Operação Viagem Segura, que retirou de circulação cerca de 300 motoristas
alcoolizados no período e realizou mais de 88 mil abordagens e 10 mil
infrações, tenha colaborado para a tragédia não ser ainda maior. Especialista
em trânsito, o professor do Laboratório de Sistema de Transportes (Lastran) da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) João Fortini Albano, lembra
que o aumento de 6% na frota nos últimos três anos tem de ser considerado. Para
Albano, o despreparo dos motoristas pode ser uma das causas para as perdas: “Acostumados
a trafegar nos centros urbanos, os condutores chegam às estradas e se envolvem
em colisões ainda mais graves devido à alta velocidade, às ultrapassagens
indevidas e ao desconhecimento, inclusive, de regras que operaram nessas vias”. O inspetor Jerry Adriane Dias Rodrigues,
superintendente da Polícia Rodoviária Federal (PRF), responsável pelas estradas
federais, aquelas que apresentaram quase metade dos registros – 46,4%–, diz que
foi a violência das colisões que chamara a atenção: “É uma impaciência. As
pessoas parecem que dirigem como se estivessem fugindo de uma guerra. É um
comportamento suicida”. Cansados de tentar buscar respostas para estatísticas
tão perversas autoridades como o tenente-coronel Ordeli apostam na teoria de
que tragédias como estas são cíclicas, já que o elevado número de mortes choca
a sociedade, e que o próximo feriadão tende a ser mais sossegado. Oremos!
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