sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

O NATAL MAIS TRÁGICO EM 10 ANOS NO TRÂNSITO



(Zero Hora - 26 - Capa e página 34 com dados estatísticos) Não adiantou entrar em vigor o endurecimento da Lei Seca, montar operação especial, nem reforçar a fiscalização. O feriadão de Natal, que se iniciou ao meio-dia de sexta-feira e se encerrou ao meio-dia de ontem, registrou o maior número de vítimas fatais, levando em consideração os dados absolutos de óbitos dos últimos 10 anos. Ao todo, foram 38 casos nos últimos cinco dias. Ao quantificar as vítimas por dia – já que a extensão do feriado varia conforme o ano –, as 7,6 mortes de 2012 só perdem para as oito do ano passado. O cálculo supera, inclusive 2007, feriado que também teve cinco dias e que as 35 vidas ceifadas eram o pico até então. Em contrapartida, a conta perde para o Dia dos Pais, quando os três dias de estradas somaram 26 mortos. A violência chama a atenção para o tipo de acidente: metade colisão e boa parte frontal. Entre elas, a triste coincidência que uniu ontem dois destinos na rodovia Passo Fundo-Trindade do Sul (ERS-324): dois carros Gol bateram e esfacelaram duas famílias com a morte de uma mulher e uma criança de cada veículo. O tenente-coronel Ordeli Savedra Gomes, do Comitê Estadual de Mobilização pela Segurança no Trânsito, que na semana passada estava animado com as ações montadas pelas polícias, entristeceu-se ao saber dos números. “Me angustia. Parece que não estamos conseguindo nos comunicar com o consciente das pessoas. O motorista tem de revisar o carro, saber se ele está em condições de pegar a estrada, mas o passageiro também tem de ser firme e não entrar no veículo, caso desconfie de cansaço ou embriaguez do condutor”, desabafou o tenente-coronel. Gomes aposta que o resultado alcançado pela Operação Viagem Segura, que retirou de circulação cerca de 300 motoristas alcoolizados no período e realizou mais de 88 mil abordagens e 10 mil infrações, tenha colaborado para a tragédia não ser ainda maior. Especialista em trânsito, o professor do Laboratório de Sistema de Transportes (Lastran) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) João Fortini Albano, lembra que o aumento de 6% na frota nos últimos três anos tem de ser considerado. Para Albano, o despreparo dos motoristas pode ser uma das causas para as perdas: “Acostumados a trafegar nos centros urbanos, os condutores chegam às estradas e se envolvem em colisões ainda mais graves devido à alta velocidade, às ultrapassagens indevidas e ao desconhecimento, inclusive, de regras que operaram nessas vias”.  O inspetor Jerry Adriane Dias Rodrigues, superintendente da Polícia Rodoviária Federal (PRF), responsável pelas estradas federais, aquelas que apresentaram quase metade dos registros – 46,4%–, diz que foi a violência das colisões que chamara a atenção: “É uma impaciência. As pessoas parecem que dirigem como se estivessem fugindo de uma guerra. É um comportamento suicida”. Cansados de tentar buscar respostas para estatísticas tão perversas autoridades como o tenente-coronel Ordeli apostam na teoria de que tragédias como estas são cíclicas, já que o elevado número de mortes choca a sociedade, e que o próximo feriadão tende a ser mais sossegado. Oremos! 

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