quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Comandante do 11º BPM se diz “chateado”



ONZE INVESTIGAÇÕES POR DIA (COLUNA DE HUMBERTO TREZZI página 49, Zero Hora, 19/12) “A suspeita de que policiais encarregados de guarnecer o bairro Chácara das Pedras praticaram assalto e até assassinato no mesmo bairro uma desconfiança endossada pela Justiça, que mandou prender os PMs é mesmo de estarrecer. Se o policial é bandido, em quem confiar, pensa o morador? Pois é... Mas a resposta, por mais surpreendente que seja, é: confie na Polícia. Policial criminoso não significa instituição criminosa. Tanto que partiu da própria Brigada Militar a investigação inicial sobre envolvimento desses PMs em assaltos. Uma investigação ampliada e complementada agora pela Polícia Civil. A primeira coisa que a comunidade precisa saber é que a unidade em que trabalham esses dois PMs presos por crimes, o 11º Batalhão de Polícia Militar, não é um quartel onde todos assaltam, andam em carro roubado e até matam. Pelo contrário. Em 26 de outubro, policiais desse batalhão trocaram tiros e prenderam quatro ladrões suspeitos de roubar 20 veículos na zona norte de Porto Alegre. Na última quarta-feira, PMs do mesmo batalhão prenderam quatro suspeitos de assaltos a postos de combustíveis. Em fevereiro, soldados do Pelotão de Operações Especiais do 11º BPM prenderam um dos assaltantes de banco mais procurados do Estado, Márcio Vargas, o Papa-Léguas. O bandido ofereceu aos policiais R$ 10 mil e uma pistola, em troca de ser libertado. Continuou preso. Por que mencionar tudo isso? Ora, para lembrar que o 11º BPM, conhecido como Pé-de-Poeira, é um batalhão ativo contra o crime. Mas, por vezes, alguns de seus integrantes ficam sob suspeita. Os números corroboram a afirmação do coronel. Em 2012 foram abertas 11 investigações por dia na BM, todas para verificar problemas envolvendo policiais. A maioria, 2.642, foi de sindicâncias, quase todas transgressões disciplinares – coisas como atraso no serviço, bico (trabalho extra, proibido pelo regulamento da Brigada), desacato ao superior. Outras 1.394 foram Inquéritos Policiais-Militares (IPMs), para checar possíveis crimes cometidos pelos fardados. Algumas sindicâncias também investigam crimes comuns. No ano passado, a média foi ainda maior: 12 investigações abertas por dia. Ou seja, não é normal policial envolvido em assalto, mas tampouco chega a ser surpreendente. As investigações tocadas pela corregedoria envolvem de tudo um pouco: suspeita de tráfico, roubo, extorsão, lesões, tortura e ameaça. E até uma, no próprio 11º BPM, na qual 19 policiais são suspeitos de fazer segurança para casas de jogo clandestino. A maioria das investigações é feita no próprio batalhão. Casos graves, porém, são investigados pela corregedoria. São 59 pessoas que trabalham nessa repartição central, fora o pessoal que atua no serviço reservado em cada batalhão”.

“EU NÃO PODIA AFASTÁ-LOS SEM MOTIVO CONCRETO” (Página 49) O comandante do 11º Batalhão de Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Alberi Barbosa, passou o dia de ontem dando entrevistas. Tinha pouco a dizer sobre a prisão de dois soldados da sua unidade, já que a investigação foi conduzida pela Corregedoria-geral da BM. Alberi se diz “chateado” com o episódio, já que o batalhão é conhecido também pela ação enérgica contra assaltantes na Zona Norte. Confira entrevista que ele concedeu a Zero Hora após a prisão dos subordinados: Zero Hora – O que o cidadão dos bairros guarnecidos pelo 11º BPM pode pensar se soldados do batalhão são suspeitos de envolvimento em assaltos e até numa morte? Tenente-coronel Alberi Barbosa – Olha, não posso dizer o que outros cidadãos vão pensar. Eu, no caso, estou bem chateado com o que aconteceu. Mas garanto que toda e qualquer denúncia que nos chega é investigada. Por nós ou pela corregedoria. Esse sumiço de uma pistola (a primeira suspeita contra os PMs presos) foi investigado pela corregedoria. ZH – São corriqueiras denúncias de policiais envolvidos em tantos crimes como estes? Se eles eram suspeitos de tanta coisa, por que estavam nas ruas e não afastados? Tenente-coronel Alberi – Normal, claro que não é. Eles estavam trabalhando nas ruas porque toda pessoa é inocente, até que se prove sua culpa. Não poderiam ser afastados sem um motivo concreto. Como a investigação foi tocada pela corregedoria, eu nem tinha motivo para afastá-los. Desde que estou no batalhão eles não tinham sido afastados. ZH – Como o batalhão recebe uma notícia dessas? Alberi – Ninguém gosta. Pode ficar certo, somos os primeiros a sugerir expulsão de quem usa a farda para cometer crime. Mas não podemos nos precipitar, temos de seguir ritos formais e legais.

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